domingo, 17 de dezembro de 2006

Lúmen



LUMEN
(Alan Andrade Vasconcellos)

Luz;
Luz que ilumina um caminho na noite;
Luz que ilumina a mão do escritor
Ao desenhar no papel as letras de sua alma;
Luz que ilumina o dourado sacrário
Onde o corpo do Senhor representado está;
Luz que mal ilumina o barraco do pobre
E que não nos ilumina sua fome e dos seus;
Luz que queima documentos perigosos
Assinados no seu apagar;
Luz em que se desvenda o arco-íris,
Decompondo-se em cores várias,
que enchem de luz o carrossel
que acende a luz nos olhos das crianças;
Luz que se eterniza em uma foto
E que dá vida aos personagens do cinema,
Luz triste que guia o féretro
Daquele que viu a Luz e A alcançou;
Luz que é da Lua
Seja ela cheia ou meia;
Luz que é do Sol,
Na alegria da manhã
Ou na tristeza do entardecer;
Luz que é de vela
Ou tocha ou lampião;
Luz que é poema
Ou prosa ou canção;
Luz que não existe mais,
Engolida pelo buraco negro: escuridão;
Luz que é cidade,
Cidade que é luz, Paris!
Estação de trem,
Luz que aquece do frio,
Luz que é chama,
e que chama o inseto para a morte,
E a gente para a VIDA!

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Enquanto a Chuva Cai...



Enquanto a Chuva Cai
Manuel Bandeira


A chuva cai. O ar fica mole . . .
Indistinto . . . ambarino . . . gris . . .
E no monótono matiz
Da névoa enovelada bole
A folhagem como o bailar.
Torvelinhai, torrentes do ar!
Cantai, ó bátega chorosa,
As velhas árias funerais.
Minh'alma sofre e sonha e goza
À cantilena dos beirais.
Meu coração está sedento
De tão ardido pelo pranto.
Dai um brando acompanhamento
À canção do meu desencanto.
Volúpia dos abandonados . . .
Dos sós . . . — ouvir a água escorrer,
Lavando o tédio dos telhados
Que se sentem envelhecer . . .
Ó caro ruído embalador,
Terno como a canção das amas!
Canta as baladas que mais amas,
Para embalar a minha dor!
A chuva cai. A chuva aumenta.
Cai, benfazeja, a bom cair!
Contenta as árvores! Contenta
As sementes que vão abrir!
Eu te bendigo, água que inundas!
Ó água amiga das raízes,
Que na mudez das terras fundas
Às vezes são tão infelizes!
E eu te amo! Quer quando fustigas
Ao sopro mau dos vendavais
As grandes árvores antigas,
Quer quando mansamente cais.

quinta-feira, 30 de novembro de 2006

O João de Barro



Lenda do João de Barro
( Lenda indígena)


Conta uma lenda indígena que, há muito tempo, numa tribo do sul do Brasil , um jovem apaixonou-se por uma moça de grande beleza. Melhor dizendo: - apaixonaram-se. Jaebé , o moço , foi pedi-la em casamento. O pai dela perguntou: - Que provas podes dar de sua força para pretender a mão da moça mais formosa da tribo? As provas do meu amor! - respondeu o jovem. O velho gostou da resposta mas achou o jovem atrevido. Então disse: - O último pretendente de minha filha falou que ficaria cinco dias em jejum e morreu no quarto dia. Eu digo que ficarei nove dias em jejum e não morrerei. Toda a tribo se espantou com a coragem do jovem apaixonado. O velho ordenou que se desse início à prova. Enrolaram o rapaz num pesado couro de anta e ficaram dia e noite vigiando para que ele não saísse nem fosse alimentado. A jovem apaixonada chorou e implorou ao deus Lua que o mantivesse vivo para seu amor. O tempo foi passando. Certa manhã , a filha pediu ao pai: - Já se passaram cinco dias. Não o deixe morrer. O velho respondeu: - Ele é arrogante. Falou nas forças do amor. Vamos ver o que acontece. E esperou até a última hora do novo dia. Então ordenou: - Vamos ver o que resta do arrogante Jaebé. Quando abriram o couro da anta , Jaebé saltou ligeiro. Seu olhos brilharam, seu sorriso tinha uma luz mágica. Sua pele estava limpa e cheirava a perfume de amêndoa. Todos se espantaram. E ficaram mais espantados ainda quando o jovem , ao ver sua amada, se pôs a cantar como um pássaro enquanto seu corpo , aos poucos, se transformava num corpo de pássaro! E exatamente naquele momento , os raios do luar tocaram a jovem apaixonada , que também se viu transformada em um pássaro. E, então, ela saiu voando atrás de Jaebé , que a chamava para a floresta onde desapareceu para sempre. Contam os índios que assim que nasceu o pássaro joão-de-barro. A prova do grande amor que uniu esses dois jovens está no cuidado com que constrói sua casa e protegem os filhotes. E os homens amam o joão-de-barro porque lembram da força de Jaebé, uma força que vinha do amor e foi maior que a morte.

sábado, 25 de novembro de 2006

Roberto da Botica


Rio Grande - Vista da margem de S. J. Batista do Glória - Mg
Vista do Rancho do Roberto da Botica...Bons e bons tempos
aqueles...

Hoje, às vésperas de um aniversário que ninguém gostaria de
comemorar, deixo aqui a minha homenagem a alguém muito
especial, que marcou a minha vida em muitos sentidos...

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QUEM OUVIU, OUVIU. QUEM NÃO OUVIU ...


É Roberto da Botica... Só depois que você se foi, é que me dei conta de certas coisas...

Lá no São Francisco cantavam: “Quem falou, falou. Quem não falou não fala mais... Agora é: “Quem ouviu, ouviu. Quem não ouviu não ouve mais. Com certeza, as tardes de domingo lá, nunca mais serão as mesmas, e muito mais silenciosas do que de costume, não duvide disso! Agora, a partir de hoje, as histórias e casos contados lá terão mais um personagem, saudoso e eterno. Histórias do Rachinha, do Corinthians “duscandeia”, serão relembradas, e recontadas por outros e você será mais um dos personagens.

E que saudade e dificuldade vai ser não ouvi-lo mais! Sentar ao seu lado e ouvir horas e horas de histórias e casos. Verdadeiros? Inventados? Sei-lá!

É Roberto da Botica, e agora? Como chegar no “Rancho” e não mais vê-lo sentado naquela cadeira com o toquinho amarrado atrás, equilibrando-a em dois pés somente e apoiando o braço direito na mesa azul a olhar o Rio Grande. Só agora descubro que o “Rancho” não era o “Rancho”; o “Rancho” era o Roberto da Botica, sua presença, seu espírito, seus casos e histórias. Como não lembrar do “mijado-de-rato”, da Lingüiça de sapatilha, da Rabada, do macarrão com salsicha, da casquinha de siri, da feijoada, ai meu Deus!!!! A feijoada!!!! Da prosa, da prosa, da prosa, da prosa. Como ligar o Philco de 12 faixas para ouvir a Itatiaia ou a Globo do Rio e não lembrar de você? E agora, quem vai ligar a bomba d’água se o “Super RB” não está mais lá para faze-lo?É, os super-heróis também morrem...E como jogar “caxeta” com o “curingão”, se o dono do baralho, o mais velho, e o dono do rancho não quer mais jogar? Quem vai ficar girando a mesa até ela parar de mancar?

É Roberto da Botica, os Vasconcellos estão agora sem o guardião da sua história, quem agora vai saber quem era o filho do fulano, casado com a Maria do Beltrano e que morava não sei aonde? Quem? Quem agora vai saber que fulano de tal, filho de um tal de fulano é primo torto do bisneto do nosso tataravô?Quem? Lá se foi nosso referencial!

Hoje a vida fica mais silenciosa, mais pobre, triste e meio sem rumo. Sei que você não queria lágrimas. Sempre acreditou em algo além, bem melhor do que aqui. E tenho a certeza que agora os que estão ao seu lado estão cantando: Quem falou, falou. Quem não falou, não fala mais!....

Tudo bem, a lágrima eu seguro, com dificuldade mas seguro, agora, a saudade...

Passos, uma triste quinta feira, 30 de novembro de 2000.
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Alan Andrade Vasconcellos

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

F E R R A R I S !!!!


Salão do Automóvel de São Paulo - 2006
... Mio Dio de Maranello!

Vixe!


Salão do Automóvel de São Paulo - 2006
Stand Lamborghini - Precisava escrever isso?!!!!

Quequéisso?


Salão do Automóvel de São Paulo - 2006 - Stand Honda
Carro do Ralf Schumacher

terça-feira, 21 de novembro de 2006

Cathedral



I saw you from the cathedral
You were watching me
And I saw from the cathedral
What I should be

So take my lies
And take my time
'Cos all the others want to take my life

And I watch you with an intent, basic
It's the same for you
You hold your hand
And it's all fine - laced and
What would you make me do?

So take my lies
And take my time
'Cos all the others want to take my life

Serious for the winter time
To wrench my soul
whole cotton, whole cotton ears
But I know there must be
There must be, yes, I know there must be a place to go

You saw me from the cathedral
Well I'm an ancient heart
Yes, you saw me from the cathedral
Well here we are just falling apart

You catch me
I am tired
I want all that you are

I saw you from the cathedral
You were leaving me
And I saw from the cathedral
You could not see to see

So take my lies
And take my time
'Cos all the others want to take my life

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Tanita Tikaram, vocals
Rod Argent, keyboards
Peter Van Hooke, drums
Rory McFarlane, bass guitar
Mitch Dalton, guitar
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segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Eh! Ardeia!

Eh!Ardeia

Eh! Ardeia
Terra que corações incendeia
Arraial da capoeira
Que há muito devaneia
Quem aqui vem conhecer a areia
Areia onde estão muitos passos
Talvez do Senhor Bom Jesus
Olha Passos aí gente!
No café, no leite e na cana
Nos quadros de Wagner de Castro
No coração do artista
Nas mulheres, tantas a perder de vista
Passos do Rio Grande
Da capela de oito lados,
Conhecida em vários estados
Passos de estirpe mestiça
Da brasileira preguiça
Do sinos na hora da missa
Passos que acorda cedo
Passos que dorme tarde
Terra de muita mistura
Do Branco, Preto e Amarelo
Da maldade com candura
Do leite com farelo
Passos das coisas gostosas
Da goiabada cascão
Do doce de leite
Do Café com Leite molhando o pão
Passos de muita saudade
Do saudoso samba da Unidos
Do Antigo “Globo” do João
Da Mogiana esquecida e de seu pontilhão
Dos Congados, Folias, Reinados
Das belas Cavalhadas e
Da esquina do Tula, por quê não?
Passos com sangue na veia
Eh! Ardeia.

(Alan Vasconcellos_ 1988)

Será que chove?


São Paulo, quinta-feira, 09 de novembro de 2006.
Vista do meu apartamento minutos antes do toró!

Bayerische Motoren Werke !


Salão do Automóvel de São Paulo - Outubro de 2006

Pica-Pau, a sede!

domingo, 12 de novembro de 2006

Pica-Pau


Balneário Escarpas do Lago - Capitólio - MG

At 6:00 A.M.


São Paulo, Domingo, 05 de outubro de 2006 - 06:00 a.m. Vista do meu apartamento.
Cotidiano
Alan Andrade Vasconcellos


As espadas douradas rasgam o horizonte distante
Penetrando no reino da lua e dominando-o
A Lua, medrosa e afoita, foge pelo outro lado
Enquanto as estrelas, coitadas, acabam-se uma a uma.
O sereno que o dia faz orvalho
Já começa a refletir os raios de sol
Tornando dourados os ramos, antes verdes
Brindando a manhã, princesa d'ouro.
Amiúde a vida desperta, gatos, coelhos, gente.
Trabalhadores braçais, e também de intelecto.
Se lançam ao abraço do sol amigo,
E eu, fechando a janela, com inveja vou dormir.

Hot Wheels


Salão do Automóvel de São Paulo - Outubro de 2006

Praia no rio


Margens do Rio Grande - S.J.Batista do Glória - MG
Rancho de Aquiles Grintaci Vasconcellos
O rio
( Vinicus de Moraes )

Uma gota de chuva
A mais, e o ventre grávido
Estremeceu, da terra.
Através de antigos
Sedimentos, rochas
Ignoradas, ouro
Carvão, ferro e mármore
Um fio cristalino
Distante milênios
Partiu fragilmente
Sequioso de espaço
Em busca de luz.
Um rio nasceu.

Spider-Web


Balneário Escarpas do Lago - Capitólio - MG
Caminho para as antenas

Maria-fedida


Passos - Minas Gerais
Maria-fedida nas jaboticabas.

A Fera


Salão do Automóvel de São Paulo - Outubro de 2006.
Stand da Jaguar, claro!

Agua e Pedras


Margens do Rio Grande - S.J.Batista do Gloria - MG

Caminhos


Linha Férrea em uma fazendinha em Rio Paranaíba - MG

Prisão




Balada dos mortos dos campos de concentração
(Vinicius de Moraes)


Cadáveres de Nordhausen

Erla, Belsen e Buchenwald!
Ocos, flácidos cadáveres
Como espantalhos, largados
Na sementeira espectral
Dos ermos campos estéreis
De Buchenwald e Dachau.
Cadáveres necrosados
Amontoados no chão
Esquálidos enlaçados
Em beijos estupefatos
Como ascetas siderados
Em presença da visão.
Cadáveres putrefatos
Os magros braços em cruz
Em vossas faces hediondas
Há sorrisos de giocondas
E em vossos corpos, a luz
Que da treva cria a aurora.
Cadáveres fluorescentes
Desenraizados do pó
Grandes, góticos cadáveres!
Ah, doces mortos atônitos
Quebrados a torniquete
Vossas louras manicuras
Arancaram-vos as unhas
No requinte da tortura D
a última toalete . . .
A vós vos tiraram a casa
A vós vos tiraram o nome
Fostes marcados a brasa
E vos mataram de fome!
Vossas peles afrouxadas
Sobre os esqueletos dão-me
A impressão que éreis tambores —
Os instrumentos do Monstro —
Desfibrados a pancada:
Ó mortos de percussão!
Cadáveres de Nordhausen
Erla, Belsen e Buchenwald!
Vós sois o húmus da terra
De onde a árvore do castigo
Dará madeira ao patíbulo
E de onde os frutos da paz
Tombarão no chão da guerra!